Ganesha Chaturthi – O Festival do Nascimento de Ganesha
- Naradeva Shala
- 10 de set.
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Ganesh Chaturthi é um dos festivais mais importantes do hinduísmo, celebrado em honra ao nascimento de Ganesha, a divindade com cabeça de elefante reverenciada como deus da prosperidade, da sabedoria e da remoção de obstáculos.
O festival começa no quarto dia (chaturthi) do mês de Bhadrapada (agosto-setembro) do calendário hindu e pode durar até dez dias o festival. No auge da celebração, as estátuas de Ganesha, chamadas murti, são imersas em rios, lagos ou no mar, marcando simbolicamente a despedida de Ganesha e seu retorno ao Monte Kailash, morada de seus pais, Shiva e Parvatī.
Celebrado tanto de forma íntima, nos lares, quanto em grandes eventos públicos organizados por comunidades, Ganesha Chaturthi tornou-se um dos maiores festivais da Índia e também se espalhou por comunidades hindus em todo o mundo, sendo hoje em dia um dos festivais hindus mais comemorados no mundo.
Observâncias e Rituais

As celebrações iniciam-se com a instalação das murtis em pequenos santuários domésticos, chamados mandap, ou em palcos públicos elaborados, os pandal.
Antes do festival, oficinas de artesanato produzem estátuas que variam de tamanho — desde modelos simples para residências até enormes esculturas que serão carregadas em desfiles coletivos pelas ruas.
A adoração começa com o ritual prāṇa pratiṣṭhā (“instalação do sopro da vida”), que simbolicamente invoca a presença de Ganesha na estátua. Em seguida, realiza-se o śoḍaśopacāra, ou as 16 formas de veneração, acompanhadas pela recitação de mantras e hinos dos textos sagrados, como o Śrī Gaṇapati Atharvaśīrṣa.
Durante as oferendas (pūjās), ganesha recebe flores, pasta de sândalo, coco, açúcar mascavo e especialmente 21 modaks, bolinhos doces considerados os favoritos de Ganesha. Outros doces como laddus também são preparados e, ao final, transformam-se em prasāda — alimento abençoado, compartilhado entre os devotos presentes.
As murtis permanecem em veneração por um número ímpar de dias — um dia e meio, três, cinco ou sete. Nas celebrações maiores, o festival estende-se até o 11º dia, conhecido como Anant Chaturdashi. Neste dia, após a cerimônia de despedida (uttarpuja), inicia-se o grandioso ritual do visarjan, a imersão da imagem em água, muitas vezes acompanhada por procissões com tambores, cantos devocionais e danças.
Desenvolvimento Histórico

Embora o culto a Ganesha seja muito antigo, Ganesha Chaturthi adquiriu grande destaque histórico em momentos específicos.
No século XVII, o governante Shivaji (c. 1630–1680), fundador do Império Maratha, utilizou o festival para fortalecer o sentimento de identidade entre seu povo durante a luta contra os Mughals.
Mais tarde, em 1893, o líder do movimento de independência indiana Bal Gangadhar Tilak, conhecido como Lokamanya (“reverenciado pelo povo”), transformou Ganesha Chaturthi em um grande festival público. À época, os britânicos haviam proibido reuniões políticas, mas festivais religiosos ainda eram permitidos. Tilak, então, viu no culto a Ganesha uma forma de unir pessoas de diferentes classes e castas em torno de um símbolo comum, ao mesmo tempo religioso e político. Assim, a devoção ao deus de cabeça de elefante se tornou também um veículo para o nacionalismo indiano.
Hoje, Ganesh Chaturthi é especialmente popular em Maharashtra, nas cidades de Mumbai e Pune, e amplamente celebrado em diversas partes da Índia e da diáspora hindu pelo mundo.
Ganesha e Sua Simbologia

O nome Ganesha significa “Senhor do Povo” ou “Senhor das Hostes” (gaṇa refere-se tanto ao povo comum quanto às hostes divinas). Ele é patrono de intelectuais, escribas, autores e comerciantes.
Tradicionalmente, é representado com corpo humano e cabeça de elefante, ventre proeminente e uma de suas mãos segurando doces indianos redondos, especialmente o modak, pelo qual é apaixonado. Seu veículo (vāhana) é o rato indiano, que simboliza sua capacidade de superar obstáculos — pequenos ou grandes, sutis como um rato ou imponentes como um elefante.
Diversos mitos explicam o nascimento de Ganesha. Um dos mais conhecidos conta que Pārvatī, desejando alguém que a guardasse, moldou de sua própria pele um menino. Quando Śiva retornou a sua casa, depois de um longo período longe, ao tentar entrar o jovem ganesha o impediu, Shiva, enfurecido, cortou-lhe a cabeça. Ao ver o desespero de Pārvatī, Śiva prometeu devolver a vida ao menino, substituindo sua cabeça pela de um elefante. Assim nasceu Ganesha, símbolo da união entre força e doçura, intelecto e proteção.
Em algumas tradições, ele é celibatário; em outras, é descrito como esposo de Buddhi (“inteligência”), Siddhi (“sucesso”) e Riddhi (“prosperidade”)
Questões Ambientais
Nas últimas décadas, surgiu uma preocupação ambiental em torno do festival. Muitas das grandes estátuas de Ganesha passaram a ser produzidas com gesso e pintadas com tintas químicas que contêm metais pesados como chumbo, mercúrio e cromo. Quando imersas em rios e mares, essas substâncias poluem a água e prejudicam o ecossistema.
Em resposta, movimentos ambientalistas e governos locais passaram a incentivar o uso de murtis ecológicas, feitas de argila natural e decoradas com tintas orgânicas. Em algumas casas, a imersão é feita simbolicamente em baldes ou tanques, e a argila resultante é usada depois em jardins, preservando assim o espírito do ritual e o equilíbrio da natureza.
Ganesh Chaturthi é muito mais do que uma celebração religiosa. É um festival que une famílias, fortalece comunidades e mantém viva a devoção ao deus dos novos começos. Ao longo da história, serviu tanto como expressão de fé quanto como símbolo de resistência cultural e política.
Hoje, celebrado dentro e fora da Índia, o festival continua a encantar milhões de pessoas, lembrando que Ganesha não é apenas o removedor de obstáculos externos, mas também das barreiras internas que impedem a prosperidade, a inteligência e o bem-estar.
Om Gam Ganapataye Namah
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