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A CHEGADA DO VERÃO: QUANDO O SOL ENSINA, E O CORPO REVERENCIA

  • Foto do escritor: Naradeva Shala
    Naradeva Shala
  • há 2 dias
  • 4 min de leitura

Por Erick Schulz e Sabrina Alves


Sol entardecer

O verão não chega — ele irrompe. Primeiro como um tremor discreto na madrugada, depois como um ardor que se instala nos telhados, nas calçadas, na pele, nos pensamentos. E então, quase sem transição, estamos oficialmente dentro dele: Grīṣma (verão), a estação onde o sol atinge seu ponto máximo, onde a natureza inteira se reorganiza em torno da luz.


No calendário do Ayurveda, o solstício marca mais do que o início simbólico do verão. Ele inaugurou uma mudança fisiológica profunda. Os antigos rishis observaram, com precisão quase poética, que quando o sol cresce, a vitalidade do mundo encolhe. Caraka descreve o período do ādāna-kāla (tempo dominado pelo calor)


"Durante o período de desidratação, não apenas o sol, com seus raios, mas tambem os ventos, com sua velocidade e secura penetrantes, absorvem a

umidade da terra. O s ventos progressivamente produzem secura na atmosfera durante as três estações deste período, ou seja, o final do inverno, a primavera e o verão, que favorecem os sabores amargo, adstringente e picante, respectivamente - todos eles possuem efeitos secativos e como resultado, os seres humanos também tornam-se enfraquecidos."

(Caraka Saṃhitā, Sūtrasthāna 6.6)


"Em grisma (verão), os raios de sol tornam-se poderosos, dia após dia, e mostram-se destrutivos (para todas as coisas). Slesman (kapha) torna-se reduzido a cada dia e vāyu (vāta), conseqüentemente, está aumentado. Portanto, nesta estação, o uso de coisas (alimentos) salgadas, picantes e azedas (no sabor) exercícios fisicos e a exposição à luz d o sol devem ser evitadas."

(Aṣṭāṅga Hṛdaya, Sūtrasthāna 3. 26.2.27)


À luz desses ensinamentos, o verão deixa de ser simplesmente a estação das férias, do mar, da frutaria colorida e das tardes mais longas. Ele se torna um professor severo, que revela não apenas o ambiente externo, mas a paisagem interna do corpo: tudo o que é frágil, inflamado, negligenciado ou esgotado ganha nitidez sob o calor.



O VERÃO SEGUNDO O AYURVEDA: UMA ESTAÇÃO DE DESVELAMENTO


A lógica comum costuma imaginar o verão como auge da vitalidade. Mas os śāstra (corpo de conhecimento ayurvédico) afirmam algo muito diferente — e profundamente contraintuitivo. No calor, kapha se dissolve, tirando estabilidade física e emocional; vāta se eleva, ampliando ansiedade, irritabilidade e insônia; Pitta se acumula, formando inflamações que só aparecem meses depois. E, acima de tudo, ojas — a essência vital — se fragiliza com facilidade.


ENTARDECER

Talvez Grīṣma seja o melhor exemplo dessa afirmação. Não é a estação em si que adoece — é falta de adaptação ao seu movimento. O sol forte não é inimigo: ele é sinal, orientação, advertência.


Por isso, o Ayurveda não oferece ao verão um manual de força, mas um manual de lucidez . Quem sobrevive ao calor não é quem tenta superá-lo, mas quem aprende a caminhar com inteligência, aprimoramentos e sombra.


E é exatamente por isso que escolhemos este momento — o início de Grīṣma — para apresentar o segundo volume da série Rotinas do Ayurveda :

🌞 Verão com Ayurveda: Práticas Sazonais para o Equilíbrio Vital (Disponível com despontar do Verão, breve no site do Instituto Naradeva Shala.)



O SOLSTÍCIO DE VERÃO COMO PORTAL DE PRÁTICA

No solstício de Verão, o sol atinge o ponto extremo de sua trajetória. A tradição védica sempre viu esse instante como um limiar: não apenas a virada do ciclo, mas um convite à consciência. Tudo está mais luminoso — e, por isso, tudo pede mais discernimento.


O Ayurveda nos lembra que viver bem o verão é garantir a saúde das estações próximas. Quem protege os olhos agora, floresce depois. Quem exagera agora, colhe cansaço mais tarde.


O NOVO E-BOOK — UMA REVERENCIA AO SOL E UMA PROMESSA DE FRESCOR

Este livro nasce do mesmo lugar onde nasceu o volume da Primavera: das salas de aula de Naradeva Shala, dos atendimentos clínicos, das dúvidas dos estudantes, das vivências reais de quem trabalha diariamente com Ayurveda e observa, ano após ano, como o verão impacta o corpo brasileiro — urbano, exausto, atravessado por telas, trânsito, compromissos e calor extremo.


Se na Primavera aprendendo o despertar, no Verão aprendendo a preservação. É uma estação que não exige brilho, e sim cuidado; não celebre heroísmos, mas ritmos; não recompensa excessos, mas pausas. E cada capítulo do e-book foi escrito para refletir exatamente essa inteligência estacional: reverencia ao Sol, com cuidado e humildade.


A obra é fundamentada em três pilares que atravessam todo o Ayurveda:

  1. Dinācaryā — uma rotina diária, que protege a força, a mente e os tecidos;

  2. Rātricaryā — uma rotina noturna, que garante o único momento de resfriamento interno;

  3. Ṛtucaryā — as rotinas sazonais, que adaptam o corpo aos ciclos do ano.


Seguir o uma rotina baseada no ayurveda, preserva força, energia, vitalidade e clareza mental. Quando aplicamos esses princípios ao verão, compreendemos que a estação exige uma mudança prática e filosófica: menos ambição, mais cuidado; menos calor, mais refresco; menos movimento, mais ritmo.



DISPONÍVEL COM O DESVELAR DO VERÃO


Os e-books Verão com Ayurveda: Práticas Sazonais para o Equilíbrio Vital  + Sabores da Verão com Ayurveda: Alimentação Sazonal para Despertar o Corpo e a Mente (receitas e cardápios), está finalizado e, em poucos dias, estará à venda. Será um guia prático, profundo e fiel aos textos clássicos — mas totalmente aplicado à realidade brasileira.


Desejamos que ele o acompanhe como uma brisa, uma água fresca, um lembrete de que o cuidado é uma prática diária, não uma ocorrência extraordinária.


Com carinho, rigor e tradição viva,

Prof. Erick Schulz & Profa. Sabrina Alves

Instituto Naradeva Shala


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